Hoje




Hoje, eu quero um dia diferente.
Vou prender o cabelo com laço de fita,
Rir à toa, andar descalça, displicente,
Tirar do armário o vestidinho de chita.

Nada de cintos e golas me apertando!
Por debaixo da saia, nenhuma anágua.
Sentir a chuva caindo, me purificando,
E apagando do peito a trilha da mágoa.

Hoje eu quero o vento batendo no rosto,
Não quero mais chorar pelo bolo solado;
Quero o pé na estrada, sem parar no posto,
Viver a dor e a delícia de um beijo roubado!

Nada de métrica violentando o meu verso,
Nenhuma margem limitando minha folha;
Nada de balança ou de espelho perverso,
Nenhuma má influência na minha escolha.

Vou quebrar uma regra e pagar uma prenda.
Eu quero a leveza do sonho da noite passada;
Nos olhos, só a esperança, e nenhuma venda;
E no peito, a certeza do amor, e mais nada!

(Lídia Vasconcelos)


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